Foi apresentado como o maior projeto editorial da história de Portugal. Quinze mil páginas, um quarto delas inéditas, em trinta volumes, dos quais os três primeiros acabam de ser publicados, e o restante será publicado em ritmo acelerado até o final de 2014. Esta é a obra completa do jesuíta António Vieira (1608-1697), “Imperador da Língua Portuguesa” segundo Fernando Pessoa, a quem outro espírito anticlerical, o de José Saramago, se curvou: “Não há português mais bonito do que o escrito por este jesuíta”. ». Que um projeto desta envergadura – promovido pela Universidade de Lisboa, com a participação de 52 investigadores, incluindo a italiana Mariagrazia Russo, da Universidade de Viterbo – veja a luz num momento muito difícil para a economia portuguesa é um sinal encorajador para a cultura. É uma feliz coincidência que isto aconteça poucas semanas depois da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, com o primeiro Papa latino-americano a visitar o principal país sul-americano. Vieira foi aliás também um dos heróis da formação do Brasil moderno. Vieira nasceu em Lisboa e cresceu na Bahia, para onde seu pai emigrou para trabalhar como escrivão. Lá ele ingressou na ordem dos Jesuítas e se destacou por seus talentos intelectuais e habilidades oratórias. Ainda estudante, participou na defesa da cidade sitiada pelos holandeses e tornou-se um acérrimo defensor da causa portuguesa. Após a independência de Portugal da Espanha em 1640, foi enviado para casa com o vice-rei do Brasil para confirmar a rendição da colónia ao novo rei, João IV de Bragança, com quem Vieira se tornou homem de confiança e pregador da corte. Para os jesuítas, iniciou-se um período de delicadas missões diplomáticas entre as cortes europeias, dos Países Baixos à França e à Itália. Nos anos que a Inquisição Portuguesa perseguiu, cristão-novos, judeus suspeitos de falsa conversão ao cristianismo, Vieira manifestou-se contra a discriminação contra eles. Ele fez isso por Política realconvencido disso pelos ricos cristão-novos Os investimentos estratégicos poderão ter chegado a Portugal, talvez pela influência da tensão messiânica que passou pela Europa em meados do século XVII – que via a conversão dos judeus como um sinal escatológico – mas também pela abertura e abertura intelectual. O espírito de tolerância que caracterizou as suas obras vulcânicas. O que o levou a fazer gestos ousados naqueles tempos, como quando, durante uma de suas estadias em Amsterdã, quis conhecer a comunidade judaica e apoiar discussões teológicas com o rabino Manasseh ben Israel. A sua suspeita de apoio ao Judaísmo e as suas teses sobre a missão redentora de Portugal rumo ao Cristianismo – cheirando ao Sebastianismo, uma doutrina heterodoxa nascida um século antes da pregação do judeu secular Gonçalo Anes Bandara – atraíram imediatamente a atenção da Inquisição, que prendeu a respiração seu pescoço por quase toda a sua vida. Vieira foi salvo pela proteção primeiro de João IV de Portugal e do general jesuíta Giovanni Paolo Oliva, e depois dos julgamentos do Papa Clemente e do Auto de fé, castigos gerais impostos pela Inquisição Portuguesa. Além da atividade como diplomata e escritor eclético por toda a Europa, o outro grande capítulo de sua vida aconteceu no Brasil. De 1651 a 1661 trabalhou principalmente na reconstrução das missões jesuíticas no Maranhão. Ele fez inúmeras viagens ao longo do rio Amazonas, defendendo os índios de ataques e tentativas de escravizá-los por parte dos colonos, e escreveu cartas ao rei denunciando a violência que testemunhou. Tornou-se uma espécie de Bartolomeu de las Casas no Brasil. Após sua morte, ele deixou uma enorme obra, consistindo de sermões espirituais e escritos políticos, teológicos e literários. José Eduardo Franco, diretor do Centro de Literaturas e Culturas de Língua Portuguesa da Universidade de Lisboa, explica o facto de nunca ter sido publicado na íntegra – “isto explica-se pela sua prevalência em bibliotecas e arquivos de Portugal, França, Inglaterra , Itália e Brasil.” E os Estados Unidos. Outro obstáculo foi a grande diversidade de géneros literários – desde mensagens proféticas, cartas, sermões e obras literárias – que durante muito tempo dificultaram a publicação de uma edição crítica. A obra exigiu um financiamento significativo e foi recebida por instituições católicas como a Companhia de Jesus, o Santuário de Fátima e, mais importante, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, a principal instituição de caridade do país. Entre as novidades deste Trabalho completoFranco explica ainda que serão “milhares de páginas de textos inéditos ou apenas parcialmente publicados, em particular uma das obras mais importantes de Vieira, o Chave para os Profetase diferentes capítulos de História futuraAlém de peças de teatro e muitos discursos.” O historiador sublinha a importância de uma figura considerada uma das maiores figuras da cultura portuguesa, mas há três séculos: “O Padre Vieira era um empresário que acreditava num Portugal forte, numa Europa cristã unida, e um mundo melhor, renovado pela força do espírito.” Lutou Defendeu a justiça social e denunciou a desigualdade de uma sociedade baseada no privilégio hereditário.A Utopia do Quinto Império, que deveria trazer nova glória à Igreja e a Portugal, foi na verdade um precursor da cultura ecumênica.
“Guru de comida típica. Solucionador de problemas. Praticante de cerveja dedicado. Leitor profissional. Baconaholic.”
More Stories
Fiat Multipla 2025: Um vídeo revisando como será o carro Anti-Dacia?
Lego, uma montanha de plástico para gerar uma torrente de lucros
Klarna, empresa sueca de fintech, quer demitir metade de seus funcionários para substituí-los por inteligência artificial